sexta-feira, 9 de abril de 2010

99 luftballoons

Eu acabo sempre querendo ter palavras. Uma coleção de todas elas bem embaixo da língua, nesse canto quase sempre esquecido, refugiadas esperando o momento certo de se agarrarem nos dentes e correrem língua afora para encontrar expectador externo. Eu acabo sempre as unindo todas bem debaixo da língua, umas amassadas contra as outras, comprimidas se combinando e destoando. E aí sempre as jogo pra fora assim, toda vez que posso.
É que o silêncio me dói, moço. Dói bem dentro dos ossos assim, e faz com que todas essas palavras escondidas virem um sussurro bem baixinho, quase do tom do silêncio. Então eu falo, escrevo, canto e grito,p'ra não ter que sussurrar, pra não ter que dizer essas palavras todas juntas. E eu sei fazer imagens como pessoas que enchem balões: bonitos e coloridos eles flutuam e enchem nossos olhos, daqui a pouco, murchos caem no chão ou explodem vazios no ar; nada fica naquele que olha além daquela beleza sem razão. Assim eu risco minhas letras redondas feito os balões cheios de nada.
Acho que eu devo ficar mais quieta, imóvel na cadeira de palhinha, como se fosse a mulher que nada percebe desse menino que mal se mostra, que acha que amor é código que se estuda, que se segue feito a trilha que faz a formiga pelo chão. Aí então eu vou saber como deixar que se mostre a sutileza dos balões.



E se você lê agora (não, não você, moço. Eu falo com esse outro aí, que sempre ouve meu discurso falho de gente que mexe com as Letras e fala com voz bonita de quem sabe ter certeza) uns motivos que eu não soube dizer, se reconhecer, se entender (será que se entende?), então como será a próxima conversa?