sexta-feira, 15 de outubro de 2010

barulhando

e tem uma ave que gorgeia vez em quando aqui perto de minha janela. No entanto, quando arrisco o olhar para fora, só vejo o galo esganiçado da rosa-dos-ventos da casa vizinha. às vezes acho que ele finge um canto que não é seu só para me deixar em dúvida, procurando esse gorgear tão diferente, que invade minha janela e bagunça minhas análises sintáticas. Tudo lá fora está sempre invadindo minha janela: os aviões roncando, voando perto dos tetos, os passarinhos incessantes, as vozes das casa ao lado, inquieta, barulhenta, cheia de bocas e mentes que não calam jamais... São meu caminho e desencontro por muitas vezes. Nem mesmo as árvores aqui da minha rua calam-se. Nos dias de vento, fingem chuva para me enganar, esvoaçam suas folhas inundando meu quintal, e, consequentemente, o carpete que será pisado pelos mesmos sapatos que pisaram lá fora; os galhos dos ipês agora se erguem ásperos para o céu vazio, ainda não é tempo de florir. E quando não venta, ainda assim falam bem baixo enquanto eu passo pela rua, ou mesmo enquanto estou sentada no chão, encostada na cama de uma forma que ninguém me vê pela janela, só o galo da rosa-dos-ventos (e as janelas da casa estranha que se ergue atrás da minha). Eu não sei o que elas dizem, mas sei que falam diretamente para mim. O problema é que as pedras do asfalto gasto fazem tanto cochicho quando passo que não entendo todo o resto, como são barulhentos esses pedregulhos enxeridos!



Acho que virei criança.

sábado, 9 de outubro de 2010

Thieves


We two are makers...

sexta-feira, 18 de junho de 2010

sexta-feira, 9 de abril de 2010

99 luftballoons

Eu acabo sempre querendo ter palavras. Uma coleção de todas elas bem embaixo da língua, nesse canto quase sempre esquecido, refugiadas esperando o momento certo de se agarrarem nos dentes e correrem língua afora para encontrar expectador externo. Eu acabo sempre as unindo todas bem debaixo da língua, umas amassadas contra as outras, comprimidas se combinando e destoando. E aí sempre as jogo pra fora assim, toda vez que posso.
É que o silêncio me dói, moço. Dói bem dentro dos ossos assim, e faz com que todas essas palavras escondidas virem um sussurro bem baixinho, quase do tom do silêncio. Então eu falo, escrevo, canto e grito,p'ra não ter que sussurrar, pra não ter que dizer essas palavras todas juntas. E eu sei fazer imagens como pessoas que enchem balões: bonitos e coloridos eles flutuam e enchem nossos olhos, daqui a pouco, murchos caem no chão ou explodem vazios no ar; nada fica naquele que olha além daquela beleza sem razão. Assim eu risco minhas letras redondas feito os balões cheios de nada.
Acho que eu devo ficar mais quieta, imóvel na cadeira de palhinha, como se fosse a mulher que nada percebe desse menino que mal se mostra, que acha que amor é código que se estuda, que se segue feito a trilha que faz a formiga pelo chão. Aí então eu vou saber como deixar que se mostre a sutileza dos balões.



E se você lê agora (não, não você, moço. Eu falo com esse outro aí, que sempre ouve meu discurso falho de gente que mexe com as Letras e fala com voz bonita de quem sabe ter certeza) uns motivos que eu não soube dizer, se reconhecer, se entender (será que se entende?), então como será a próxima conversa?

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

the needle tears a hole

I hurt myself today, to see if I still feel

Inúmeras vezes diferentes pessoas questionaram-me qual era o meu medo. Tive várias respostas: a solidão, a impossibilidade de realizar sonhos, errar, ser esquecida, perder algo ou alguém. E todas essas eram respostas verdadeiras. Suas verdades podem ter durado alguns minutos ou alguns anos, (pode ser que algumas ainda sejam), mas o fato é que quando tropeçaram para fora de minha boca, eram tão reais quanto o chão que eu pisava no mesmo instante.
Acho que meu maior medo era de não sentir medo. De estar em algum ponto onde não houvesse o que esperar nem desesperar, onde nada surgiria frente aos meus olhos e eu estaria ali, parada, destemida de tudo que não corria o risco de acontecer. Nesse instante eu não seria eu, Mayara. Estaria adormecida num eterno momento de desacontecimento, nem viva nem morta: eu seria um ser inutilizado, como uma tecnologia velha. Esse sim era o maior e mais devastador deles; o medo de ficar parada e não sentir nada.
Em algum momento deixei de procurar definir e justificar meus maiores medos e inseguranças, deixo que eles aconteçam. Muitas vezes eles chegam, me abraçam, me desesperam e se vão, me deixando mais viva e pulsante, pro bem ou pro mal. Não quero dizer que tudo está bem, muitas vezes acaba mal, com o coração rebentado de uma dor que não se fala, nem se vê, de um medo aterrorizante que paralisa minhas pernas e minhas palavras... Mas ainda sim estou viva e estou aqui, gritando, sorrindo, com ou sem deus, e prefiro isso a estar afogada no meio do desuso.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Both hearts

When I look into your eyes, I can see a love restrained. But darling when I hold you, don't you know I feel the same?
It's so close sometimes, but my heart keep going apart, I feel like it's just another version of me, within you, without you.
And it speaks out loud how good knows me and how better I am with it, with you inside of it.
Is that true?


OH fuck, it's starting all over again

domingo, 31 de janeiro de 2010

bebendo a tempestade

Ouça um bom conselho, é inútil dormir que a dor não passa.

A flor que o livro secou, nas minhas mãos e eu beijo a pétala, que foi lilás, que vai amarelando dia a dia, junto com a memória de uns momentos cotidianos não marcados. A saudade que aperta no peito feito morte de bezerro, a lágrima que foge no cantinho do olho, quando já não pode mais se pendurar dentro da gente. Ah! Essa dói quando foge e escorre pela pele da gente, que logo começa a arder... Love burns.
Já me chamaram de falta, de saudade esse nó que se agarra na minha garganta e vai virando tudo por dentro, que enrosca no peito e segura a voz da gente, de um jeito que só dá pra falar sem querer: cantando, gritando, escrevendo, sem querer falar aquilo que a gente quer falar mesmo. Mas eu não sei dar nome não, moço. O que sei é o gosto daquela pétala, é bem o gosto da voz que me disse tudo aquilo que só eu ouvi, viu. É o gosto de quando a gente sabe que tem algo extraordinário acontecendo inconscientemente, e a gente esquece. Só lembra nessas horas, quando vem essa lágrima que corta feito aço de navaia, quando o coração fica afrito, bate uma a outra faia, só lembra de pouco, de leve, um tantinho de um sentimento que a gente tava lá, sentindo no auge, sem nem mesmo saber.
Coloco a flor de volta, dentro da agenda. Choro uma nota perdida dentro de mim, que fala de distância, de amor, de saudade... Meu amor, meu amigo, you're here, within me, without me, what ever fucking may happen.
I freakin' love you more and more.





Fuck, that hurts, and hurts so much.

insomnia

Uma imensidão: o papel na frente dos meus olhos e as mãos que tremem para escrever.
Não.
O laptop esparramado no colo e os dedos frenéticos apertando teclas em M, G, D, S, quais mesmo?
Ainda não. A tinta no pincel, correndo pelo papel, pela tela, pelo chão, escorrendo em uma cor, única, furtiva, marcando como fogo, corroendo o branco dos cantos que encontra com sua existência cheia de unicidade: a cor.
Também não: é a caneta, azul-popular riscando na pele morena-amarelada de tanto encarar parede atrás de parede, o desejo, a espera, a vontade além-mar, a vida que mal começou até agora, o medo, a fuga do medo de não encontrar nada, ninguém, de chegar no fim do caminho, o que me importa é a jornada, o fim é conseqüência que não quero assumir.